Xilógrafos Nordestinos #1 - Mestre Noza

Mestre Noza  (Fonte: http://mestrenoza.blogspot.com.br)

Mestre Noza, foi um dos grandes nomes da cultura popular de Juazeiro do Norte. Noza nasceu em Taquaritinga do Norte, Pernambuco, provavelmente em setembro de 1897 (há controvérsias quanto à data exata de seu nascimento). Inicialmente seu nome era Inocêncio Medeiros da Costa, mas alegando ser pertencente da família Costa Nick de Pernambuco, mudou seu nome para Inocêncio da Costa Nick.
Mestre Noza chegou a Juazeiro do Norte em 1912, ele veio a pé de Quipapé, cidade onde se criara, até a terra de Pe. Cícero junto a uma romaria. Chegando lá, exerceu diversas atividades, como a de soldado de polícia, funcionário da estrada de ferro Rede Viação Cearense e funileiro.

 

Durante a década de 1920, tornou-se conhecido como artista popular, esculpindo imagens e desenhando rótulos, principalmente de cachaça. Foi nessa época, mais precisamente em 1925 (MARANHÃO 1981), que Mestre Noza recebeu sua primeira encomenda de xilogravura para capa de cordel, à mando de José Bernardo da Silva, para ilustrar o folheto de José Pacheco “A propaganda de um matuto com um balaio de maxixe”. A capa apresentava uma mulher sentada numa cadeira, um homem com uma cesta de maxixes na cabeça e um “diabo” dando esmola a um velho sertanejo. Este fato pode ser considerado um marco na história dos folhetos de cordel, pois acredita-se que Noza foi o pioneiro da arte da xilogravura em capas de cordel na região.

Apesar de sua importante contribuição para a história dos folhetos de cordel como xilógrafo, Noza se destacava na confecção de esculturas, principalmente na estatueta do Padre Cícero. Além de ótimo escultor, também era um bom contador de histórias, ele dizia que por pouco não havia entrado para o bando de Lampião, numa de suas passagens pela cidade. Só não entrou por medo do que pudesse acontecer com o seu futuro, mas mesmo assim, chegou a tomar uma cervejinha junto com o bando de Lampião.
Em 1963, à pedido de Sérvulo Esmeraldo, produziu matrizes em madeira da Via Sacra. Sérvulo ficou tão satisfeito com o resultado que resolveu levá-las para a França em 1965. Foi produzida uma edição especial, com apenas 22 exemplares impressos à mão e lançada em Paris. O sucesso foi tanto que foi feita uma nova edição de mil exemplares, que também se esgotou rapidamente.


A partir daí, as encomendas para o Mestre Noza aumentaram. Participou de diversas exposições com obras de escultura e xilogravura no Crato, no Recife, no Rio de Janeiro e em Paris. Além da Via Sacra, cabe destaque outras obras do Mestre como a A Vida de Lampião e Os Doze Apóstolos, editados pela Universidade Federal do Ceará, entre 1976 e 1979. Algumas de suas obras fazem parte do Museu de Arte do Ceará e do Instituto de Estudos Brasileiros da USP.
As obras do Mestre se destacavam pelo caráter rústico, sem um acabamento esmerado, sem pintura. Conta Renato Casimiro (2001) que os franceses que procuravam Mestre Noza, aconselhavam-no a manter o estilo, e ele assim se conservou.

São José e Pe. Cícero  (Fonte: Caminhos da Arte)
Em 1984, já muito adoentado, foi morar em São Paulo junto com suas filhas que lá residiam. Noza não era simpatizante da terra da garoa e dizia “São Paulo é o purgatório dos vivos. Nunca vou lá. Prefiro morrer numa calçada do Socorro” (CASIMIRO, 2001). Não se adaptando ao tempo da cidade, teve um agravamento no seu estado de saúde e veio a falecer de parada cardiorrespiratória como atesta Renato Casimiro:
Mestre Noza faleceu às sete horas e dez minutos do dia vinte e um de dezembro de mil novecentos
e oitenta e três, na Rua Luiz Lustosa da Silva, 69 – Bairro de Santana, São Paulo, SP (CASIMIRO, 2001).

Atualmente, a memória de Mestre Noza é mantida no Centro de Cultura Popular Mestre Noza, localizado na Rua Santa Luzia, centro de Juazeiro do Norte. O Centro também é sede da Associação de Artesãos do Juazeiro do Norte onde é possível encontrar esculturas feitas em madeira, assim como fazia o grande Mestre.

Fontes:
CASIMIRO, Renato. Mestre Noza. Recife: Fundaj, Instituto de Pesquisas Sociais, Coordenadoria de  Estudos Folclóricos, 2001. 12 p. (Folclore, 284).
GASPAR, Lúcia. Mestre Noza
GRÉLIER, ROBERT - As Crostas do Sol.  Editora Index / Ed. Massangana, Rio de Janeiro, RJ/ Recife, PE. 1995. 168p. Ilustrado.
MARANHÃO, Liêdo. O Folheto Popular: Sua capa e seus ilustradores. Recife: Fundação Joaquim Nabuco - Editora Massangana, 1981.

Como citar essa postagem:
MEMÓRIAS DO CORDEL. Xilógrafos Nordestinos #1 - Mestre Noza. Disponível em: <http://memoriasdocordel.blogspot.com.br/2013/01/xilografos-nordestinos-1-mestre-noza.html>. Acesso em: dia Mês Ano.

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